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Os animais e os insultos

Editoria: Vininha F. Carvalho 02/08/2005

Tremenda injustiça perpetramos contra os animais aos utilizá-los para ofender nossos semelhantes. A anta, o cachorro, o gambá, a vaca, o boi, além dos muares, todos deveriam organizar-se, exigindo reparação das calúnias.

A anta, palavra que veio do árabe lamta, pelo espanhol ante, é mamífero sul-americano que pode atingir 1,80m de altura e até 2m de comprimento. Foi descoberto na América do Sul no alvorecer do século XVI. Tem quatro dedos na mão e três no pé, seu peso normal é cerca de 180kg, mas algumas chegam a 250. Aqueles que já lhe foram apresentados, entre os quais alguns caçadores e entendidos, dizem que seu pelo é marrom-escuro, a cauda é muito curta, o nariz lembra a tromba do elefante.

A anta vive nas matas, nas proximidades de rios e lagoas, é vegetariana, alimentando-se de frutas e folhas. Tem quatro dedos na mão e três no pé. Sua gestação dura 14 meses. Talvez a duração da gravidez, uma das maiores entre os mamíferos, tenha servido para engrossar o caldo dos insultos. É o caso do burro. Do cruzamento do jegue e da égua, ou do cavalo e da jumenta, nascem burros e mulas. E a gestação é mais longa. Por insondáveis motivos inconscientes, achamos que o precoce é mais sagaz. E, por analogia, aquele que demora um pouco mais é falto de inteligência.

A anta antigamente indicava pessoa sagaz, esperta, mas depois o vocábulo passou a sinônimo de tolo, como aconteceu a quem habitava a aldeia, o aldeão. E quem morava na vila, o vilão, serviu para indicar o covarde, a quem o herói sempre vence, porque é mais astucioso do que ele e luta no lado certo no clássico e eterno combate entre o Bem e o Mal.

Pobrezinha da anta! Boba, ela não é! Mas, com a urbanização do Brasil, caipiras e matutos que conviviam com a anta no meio rural, passaram a ser concebidos como incapazes intelectualmente. E para isso quem os ofendia, não se sabe bem por quais razões, passou a associá-los às antas.

Mas a anta, conhecida também como tapir, entre tantos discernimentos na luta pela sobrevivência, foi precursora da engenharia brasileira. Várias de nossas estradas seguiram o traçado de seus caminhos.

O vaidoso urubu sucumbe ao elogio da esperta raposa. Ela quer que ele solte um queijo que traz no bico e para isso se derrama em falsas admirações, dizendo que o canto do compadre é uma maravilha. Ao abrir o bico, o queijo cai e a raposa, parente do gambá (outro injustiçado, utilizado para xingar o bêbado), se manda sem sequer disfarçar que vai ouvi-lo. Já o jabuti é concebido como animal esperto, que engana a onça.

Nas origens dessas comparações estão as complexas narrativas indígenas, associadas a fábulas européias, em que inteligência e esperteza aparecem como se fossem a mesma coisa.


Fonte: Deonísio da Silva