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Vazamento radioativo na Espanha e problemas com o novo reator expõem insegurança da energia nuclear

Editoria: Vininha F. Carvalho 25/04/2008

Às vésperas do 22º aniversário do acidente ocorrido na usina nuclear de Chernobyl (em 1986 na Ucrânia) e mataram mais de 200 mil pessoas, a indústria nuclear continua patinando em termos de segurança, além de enfrentar também graves problemas de atrasos em obras e orçamentos estourados nas usinas em construção.

Ao lembrar as vítimas de Chernoby, o Greenpeace alerta que a indústria nuclear não superou sua cultura de insegurança e aponta o caso do vazamento radioativo ocorrido em novembro passado e divulgado no início deste mês como emblemático.

Em novembro de 2007, durante uma troca de combustível da usina nuclear Ascó I, houve um vazamento de material radioativo pelo sistema de ventilação, que acabou contaminando um contêiner que estava próximo. Na época do vazamento, a empresa nada comunicou a população.

Até que no início de abril, um caminhão deixou o material que destinava-se a reciclagem fora do sítio nuclear o que acabou provocando contaminação em áreas públicas. No entanto, a empresa manteve essa grave quebra de segurança em segredo durante meses.

Mesmo após o Greenpeace ter publicado detalhes do acidente, a Conselho Nuclear de Segurança (CNS), da Espanha, continuou a subestimar a gravidade do fato por muitos dias.

Pressionado pelas evidências, eles foram forçados a admitir que o vazamento foi pelo menos cem vezes maior do que o anunciado inicialmente. Partículas radioativas quentes foram espalhadas por muitos quilômetros fora da usina e centenas de pessoas precisaram ser examinadas em busca de uma possível contaminação.

“Passadas duas décadas, o caso da Espanha mostra que as lições de Chernobyl ainda não foram aprendidas e que os problemas inerentes à energia nuclear não foram solucionados. Persiste o risco de que os reatores nucleares de hoje se tornem a Chernobyl de amanhã”, disse Rebeca Lerer, da campanha de energia do Greenpeace no Brasil.

“A única novidade da indústria nuclear é sua milionária campanha de marketing para aceitar mudar uma imagem marcada por desconfiança e insegurança”, completa.

Já na França, a maior potencia nuclear do mundo, os problemas envolvem atrasos e orçamentos estourados. O projeto do Reator Pressurizado Europeu (EPR, na sigla em ingês), da usina nuclear em construção Flamanville 3, por exemplo, já enfrenta entraves técnicos após apenas três meses de obra.

Recentemente, veio a tona uma série de cartas escritas por inspetores da agência de segurança nuclear oficial da França, (ASN, na sigla em francs) demonstrando problemas de qualidade e segurança na execução do projeto.

As cartas da ASN endereçadas ao Diretor de Desenvolvimento de Flamanville 3 detalham os problemas como o uso de concreto de qualidade inadequada, trama de ferro mal disposta na base e soldas produzidas por fornecedor sem qualificação para a base do reator.

Ainda de acordo com as cartas, os planos de implementação são diferentes daqueles aprovados nos projeto, o controle de qualidade é ineficiente ou inexistente, e o construtor falhou em reparar os erros a tempo e melhorar os processos.

A dona do projeto, estatal francesa Areva alega que o EPR é mais barato, seguro e confiável e o modelo é um dos ícones do renascimento nuclear.

“Nós vemos uma situação na Espanha e na França onde o controle é frágil e os interesses políticos e econômicos estão se sobrepondo às questões de segurança e qualidade. Infelizmente, pouca coisa mudou desde 1986.

A energia nuclear continua sendo um experimento falido do século 20 que não tem lugar na matriz energética no futuro ou minimiza as catástrofes das mudanças climáticas”, disse Jan Beránek, coordenador da campanha anti-nuclear do Greenpeace Internacional.

O outro EPR da Areva em construção é o Olkiluoto 3, na Finlândia. Após dois anos e meio de construção, a obra já apresenta problemas: está dois anos atrasada e acumula mais de US$ 1,5 bilhões de prejuízo e questões de segurança.

Na Eslováquia, a construção de dois reatores nucleares soviéticos ultrapassados sofreu um grande golpe financeiro, com a desistência de um consórcio de bancos em financiar o projeto. A empresa eslovaca responsável pela usina, Elektrane/ENEL, esperava começar a construção no ano passado, mas não conseguiu iniciar as obras até agora.

E no Brasil, o projeto federal de construir Angra 3 também enfrenta problemas financeiros e de segurança. Até hoje, os números apresentados pelo Greenpeace no relatório “Elefante Branco: os verdadeiros custos da energia nuclear” não foram oficialmente explicados. A questão do lixo radioativo permanece sem solução.

“Nosso país não deve conviver com o risco de um acidente nuclear como o de Chernobyl. Temos alternativas como a economia de energia e as fontes renováveis para garantir a segurança energética, social e ambiental necessária ao desenvolvimento do país. O Brasil não precisa de Angra 3”, completa Rebeca.





Fonte: Greenepace