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A silenciosa revolta dos bichos

Editoria: Vininha F. Carvalho 06/11/2005

Doenças de animais sempre atormentaram criadores, mas não costumavam despertar o interesse dos consumidores.Não mais. Uma série de novos males de origem animal agora afeta seres humanos, espalha-se pelo mundo globalizado e traz o medo de epidemias.

Superpneumonia, mal da vaca louca e a gripe das aves preocupam produtores e consumidores. Os primeiros, às voltas com formas de evitar perda de animais e contaminação da carne. Os consumidores, em busca de segurança. Em comum, as três doenças compartilham o
fato de serem causadas por agentes infecciosos que venceram a barreira das espécies e passaram a atacar o homem.

Segundo os especialistas, o risco de doenças contraídas pelo contato, caso da superpneumonia e da gripe, ou o consumo da carne de animais doentes, o exemplo da vaca louca,tem na globalização do mercado de alimentos seu principal aliado.

O fenômeno traz uma mudança drástica na relação do homem com sua alimentação. Essas doenças se tornaram potencialmente graves devido à globalização, que pode transformá-las em epidemias mundiais. Carne com mal da vaca louca pode sair da Europa direto para restaurantes japoneses. Frangos asiáticos com gripe
podem chegar ao Brasil, por exemplo, explica Cícero Pitombo, presidente da Associação Brasileira de Buiatria (ABB), que congrega pesquisadores de bovinos, ovinos e caprinos.

Ele diz que, apesar das particularidades de cada uma dessas novas doenças, elas compartilham a gravidade.

O mal da vaca louca é uma doença degenerativa do cérebro. No Brasil, precisamos evitar que o gado tenha alimentação com ração de origem animal, pois essa é uma das grandes causas do problema, explica.

Já a gripe do frango e a superpneumonia, segundo a pesquisadora da ABB Mareia Cunha Abreu, são extremamente agressivas e com altos índices de mortalidade, principalmente em idosos e crianças:

São doenças que se espalham rapidamente e precisam de medidas sanitárias e de saúde muito eficientes. No caso da gripe do frango, o grande problema é a capacidade de mutação do vírus, o que pode torná-lo extremamente perigoso para o homem. Mas o perigo não vem só das doenças transmitidas por mamíferos e aves.

Quando o cardápio é carne a ameaça pode vir do mar. Do salmão, por exemplo. Considerado benéfico para o coração por ser rico em ômega 3, ele pode, quando criado em cativeiro, provocar câncer. É o que diz um estudo da Universidade de Indiana, nos EUA.

O problema estaria na alimentação e na forma de vida do peixe em
cativeiro, que o faria produzir 14 toxinas cancerígenas em quantidades mais altas que o salmão selvagem.

0 consumo do salmão de cativeiro aumenta consideravelmente as chance de uma pessoa desenvolver diferentes, formas de câncer credita Ronald Hites, da Universidade de Indiana.

As três principais doenças associadas a animais:

MAL DA VACA LOUCA

Causa: Acredita-se que seja provocada por príons,
proteínas alteradas.

Origem: Desconhecida. Não se sabe por que as proteínas
sofrem alterações e transformam-se em príons.

Transmissão: Suspeita-se que o contágio possa ocorrer
por meio do consumo da carne de animais doentes.

Sintomas: As chamadas encefalopatias espongiformes causam buracos no cérebro, levando à perda de controle dos movimentos e demência.

Tratamento: Não há. A doença é letal.


SUPERPNEUMONIA

Causa: A síndrome respiratória aguda grave é provocada por uma nova variedade de coronavírus.

Origem: Não se sabe como o vírus passou de animais,possivelmente a civeta asiática, para seres humanos.

Transmissão: Ainda pouco conhecida. Supostamente por meio do contato com secreções respiratórias de doentes.

Tratamento: Com antibióticos. A taxa de letalidade é de cerca de 10%.


GRIPE DAS AVES

Causa: Novas variantes do vírus da gripe. A última epidemia foi provocada pelo subtipo chamado H5N1.

Origem: Não se sabe como o vírus passou de aves para o ser humano pela primeira vez.

Transmissão: É menos contagiosa em seres humanos do que a gripe comum. Mas há temor de que o vírus possa se tornar mais infeccioso.

Tratamento: Não há tratamento especifico. A taxa de letalidade, ao que parece, é muito mais elevada do que a da gripe comum.


Fonte: Leonardo Valente - O Globo - 09/07/2004