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Pesquisa revela que abelhas-sem-ferrão amazônicas defendem meliponários contra saques de outras abelhas

Editoria: Vininha F. Carvalho 05/07/2013

Um estudo realizado por pesquisadores formados no curso de Pós-graduação em Botânica (PPG-BOT) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), André Rodrigo Rech e Mayá Schwade e pelo estudante do curso de Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Maurico Adu Schwade, revela que abelhas amazônicas sem ferrão são capazes de defender suas colônias contra roubos de outras abelhas.

O objetivo do estudo foi documentar a resposta de abelhas da espécie Duckeola ghilianii quando uma colônia de outra espécie, próxima a esta, é atacada. As observações foram realizadas em outubro de 2010, e os ninhos foram monitorados posteriormente para verificar como as abelhas se comportaram após o ataque.

O local da pesquisa foi o sítio Bom Futuro no ramal do Urubuí localizado no município de Presidente Figueiredo, interior do Amazonas, onde estão os meliponários da família Schwade.

A família mantém um criterioso acompanhamento do desenvolvimento de suas colônias de abelhas, registrando os saques por abelhas ladras como um dos principais fatores na perda de colmeias de Apis mellifera (abelha do mel, africanizada) e enfraquecimento das colônias de abelhas nativas, especialmente as do gênero Scaptotrigona.

De acordo com Rech, há algum tempo Mauricio Adu Schwade percebia que as colônias que estavam próximas às abelhas da espécie Duckeola ghilianii pareciam ser menos atacadas por abelhas ladras (chamadas biologicamente de cleptobióticas, pelo hábito especializado de roubar pólen e mel de outras abelhas).

Com base nessa percepção os autores desenvolveram a ideia de que Duckeola ghilianii deveria atuar na defesa de territórios livres de roubo e que dessa forma protegiam colônias na vizinhança contra os mesmos ataques.


- Desenvolvimento da ideia:

Para testar a tese, os pesquisadores localizaram uma colônia de abelha-sem-ferrão (Scaptotrigona sp.) que estava sendo atacada por abelhas ladras, as Lestrimelitta rufipes - popularmente conhecidas como abelha-limão, por conta de um composto volátil a base de citral que proporciona o odor característico de limão -, e a introduziram em um meliponário onde já existia uma colônia deDuckeola ghilianii. Na sequência, filmaram e observaram todo o comportamento.

Segundo os autores do artigo científico, publicado na revista Acta Amazonica do Inpa, com esse experimento eles perceberam que as operárias de Duckeola ghilianii rapidamente respondem ao odor produzido pelas abelhas ladras e iniciam uma patrulha e ataque, retirando as ladras de dentro da colônia invadida e impedindo que continuem a saquear.

“A presença de comportamento defensivo em gêneros não proximamente relacionados sugere que ele tenha evoluído mais de uma vez”, observam.


No mesmo meliponário havia também uma colônia da espécieMelipona fulva - conhecida como jandaíra preguiçosa -, a qual reagiu igualmente ao odor cítrico e atuou na retirada de pedaços das abelhas mortas.

De acordo com os autores: “Embora muito maiores que as operárias de Duckeola ghilianii, as meliponas não foram tão eficientes quanto essas”.


- Resultados e propostas

Considerando o comportamento descrito, os pesquisadores sugerem então a criação de espécies nativas resistentes em meliponários de regiões onde elas forem nativas, devido ao potencial que elas têm na proteção das colônias.

“O trabalho traz contribuições significativas para o entendimento da evolução do comportamento de defesa ao roubo em abelhas e faz inferências sobre manejo de abelhas-sem-ferrão na Amazônia, onde o ataque por abelhas ladras é um fator importante reduzindo a produção de mel”, frisam.

Rech informa ainda que, mesmo após o fim da pesquisa, o local dos estudos continua sendo monitorado por ser uma área de criação de abelhas e pelo fato dos proprietários da área acreditarem que apenas com conhecimento será possível reduzir o impacto humano sobre a floresta e aumentar o retorno que podemos obter dela.

O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fonte: Clarissa Bacellar

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